Lauro Jardim: Três fatores que deixam o governo encrencado

Se o Congresso queria um respaldo das ruas para levar adiante o processo de impeachment, este foi dado ontem. Em várias capitais importantes, um público recorde entre as manifestações anti-Dilma que explodiram há um ano. E São Paulo deu o toque que faltava: nunca a maior cidade brasileira botou tanta gente nas ruas num dia de protesto.

O que interessa a deputados e senadores é exatamente o superlativo. Agora, já dá para os parlamentares repetirem que não há como ignorar números tão eloquentes. Era isso o que diziam em conversas entre eles, na semana passada. As ruas mostrariam o norte. Isso significa que a comissão do impeachment na Câmara, que, tudo indica, será instalada entre quarta-feira e quinta-feira por Eduardo Cunha, terá um caldo de cultura fabuloso para evoluir.

Há uma combinação de três fatores que colaboram para deixar o governo encrencado.

Primeiro, a depressão na economia não dá sinal de reversão. Muito pelo contrário, os agentes econômicos já jogaram a toalha a espera do pós-Dilma. Além disso, as contradições da política econômica ficarão mais agudas daqui para frente — com Nelson Barbosa tentando puxar a economia para um lado e o PT e Lula empurrando para o outro, tendo uma Dilma no meio sem capacidade de arbitrar.

Para piorar, as revelações em cascata que surgem das delações premiadas estão fechando o quebra-cabeça da corrupção e do caixa dois da campanha de 2014. Nas próximas semanas, pelo menos parte dos depoimentos da turma da Andrade Gutierrez e, possivelmente, de João Santana, se tornará pública.

E, finalmente, como se fosse pouco, anteontem o PMDB deu um cartão amarelo ao governo na convenção do partido.

O que se enxerga para os próximos 30 dias é um cenário envenenado para Dilma Rousseff. Desde o início do ano passado, o governo atuou sobretudo com um objetivo: não cair. Agora, a sobrevivência será sua única pauta. Vai se entrincheirar no Palácio do Planalto tentando convencer deputado por deputado a não abandonar o barco. Mais precisamente o governo necessita de 171 dos 513 deputados. Como é praxe, o toma lá dá cá vai viver momentos de glória.



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