O Genuíno Cristão é um Pensador Politizado

Nota do Editor Geral: este texto é a primeira parte de um ensaio sobre o chamado do cristão a ser um pensador politizado. Esta parte introduz o tópico e desenvolve o ponto intelectual. A segunda parte desenvolve o tema político.

por Jackson Salustiano

O genuíno cristão por natureza é vocacionado a ser um completo acadêmico politizado. Esta descrição possui duas partes. Por um lado, o cristão é um acadêmico ou pensador no sentido clássico de ‘amigo do conhecimento’, como os filósofos da antiga escola de Platão. Por outro lado, o cristão é também politizado, isto é, possui a capacidade de compreender a importância do pensamento e da ação política; de dar ou de adquirir consciência dos deveres e direitos como cidadão.

A origem dessa dupla vocação de pensador-politizado é o mandato cultural. Veja os verbos bíblicos que figuram neste mandato: frutificai, multiplicai, enchei, sujeitai e dominai. Portanto, todas as áreas da vida humana são de competência do cristão. É isso que lemos no imperativo da revelação especial de Deus (ex. Gênesis 1:28).

Uma forma de entender como o mandato cultural deve ser praticado é através do dueto ensino-aprendizado recomendado por João Amós Comênio (1592-1670). Comênio foi pastor dos morávios, professor, cientista e escritor checo. É considerado o pai da didática do ensino/aprendizagem, produzindo a primeira sistematização dos estudos pedagógicos do Ocidente.

Sua maior colaboração nesta área se relaciona ao seu entendimento do ser humano, como “imagem e semelhança de Deus”. Sendo a mais sublime das criaturas do Criador, o homem, necessita ser formado para que seja a expressão de Deus e verdadeiramente humano, ou seja, alcançando a desejável erudição com piedade. Com isso, Comênio revela que a didática não é um fim em si, mas, o ser humano, criado à imagem de Deus. E, conclui: “o homem, para ser homem verdadeiramente, necessita ser formado” (Didática Magna. São Paulo, Martins Fontes, 1997, p.42).

Argumentos sobre possíveis limitações que possam gerar restrições no falar, ler e estudar, não são desculpas para fugir a esse dever. A própria autoridade dos mandamentos garante o suprimento dos meios para cumprimento desse chamado quanto à formação do ser, pois “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” (Tg. 1:5).

A vocação intelectual do cristão está no chamado a ser alguém que, filosofando, considera com sabedoria todo conhecimento, revelando amor pela verdade e fazendo “meditação em todo o dia” (Sl. 119:97). Não se precipita no falar, mas é prudente ao emitir o seu juízo. É “pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg. 1:19), sendo capaz de “conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência” (Pv. 1:2).

No seu dever didático, o cristão assume o espírito da docência, atuando como um mestre, professor, pedagogo, enfim, maestro, guardando o conhecimento de toda verdade, zelosamente, em sua alma (Dt.6:6). Com maestria, conduz outras pessoas à virtude, em um processo de constante aprendizado. Veja, por exemplo, sua atuação no lar: “ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te” (Dt. 6:7).

Cristãos são, assim, chamados à argumentar, convincentemente, sobre as verdades guarnecidas como tesouro em seus corações, estando “sempre preparados para responder com mansidão e temor” a qualquer que pedir a razão da esperança que neles há (1Pe. 3:15). Como Apolo, o cristão-pensador, faz isso com eloquência e firmeza (At. 18:24), “examinando a cada dia” como os Bereanos (At.17:11), por meio de um estudo interpretativo e comparativo entre o que aprende e o que conhece, sendo apto a discernir, inclusive, em sua cátedra, a “falsamente chamada ciência” (1Tim. 6:20).

Em toda sua dedicação à vida do saber, o cristão é dotado de abundância “na fé, e em palavra, e em ciência, e em toda a diligência” (2Co. 8:7) no seu ofício, utilizando-se sempre de uma fonte bibliográfica válida e autêntica, útil e “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”.
E, assim, deve procurar obter o alto padrão de sua vocação, qual seja, ser “perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tim. 3:16).

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